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Capítulo 5 – Saindo da China

Foto do escritor: ABMTHSABMTHS

Comitê dos Três, a partir da esquerda: o representante Nacionalista, Zhang Qun, George C. Marshall e o representante do Partido Comunista, Zhou Enlai


A China foi novamente subjugada por conflitos em muitas frentes, mas desta vez as lutas foram internas. Após a saída dos japoneses, os “senhores feudais” do antigo Império voltaram a reivindicar o poder. Mas a maior ameaça à paz eram os comunistas chineses, que espertamente se disfarçaram de reformistas contra todos os líderes corruptos, o general Chiang Kai-shek e os “senhores feudais”. Para o povo, seriam eles, os comunistas, que uniriam a China. O Presidente Truman enviou à China o General George Marshall – o famoso autor do Plano Marshall para a reconstrução da Europa no pós-guerra – para negociar uma trégua entre os nacionalistas e os comunistas. A verdadeira questão, a agenda oculta pela dominação mundial dos comunistas chineses, foi esquecida.



Nossos Pais em 1949. A Mãe estava grávida da Cecília, a 11a e a única criança nascida em Hong Kong

Nosso Pai mostrou-se muito preocupado com essas negociações, mas ainda mantinha uma pequena chama de esperança. Após o fracasso da missão Marshall, a esperança de que os nacionalistas pudessem resistir à maré do comunismo, sem a ajuda dos EUA, tornou-se impossível. Nosso Pai encontrou-se em uma situação desesperadora. Ele estava no auge de sua carreira como empresário, mas a ameaça de ter suas empresas e seus bens confiscados tornava-se cada vez mais concreta, com o iminente triunfo dos comunistas. Ainda assim acalentava a possibilidade de que talvez o comunismo pudesse ser benéfico para o desenvolvimento da China, e que, embora fosse hostil à sua fé, ele poderia sobreviver.




Foto da Ilha de Hong Kong em 1949, da laje do nosso lar-escritório de quatro andares. Situada numa área elevada no caminho para Victória Peak, a vista era magnífica. Essa varanda era a área de recreio das crianças, ótima para empinar pipas e soltar rojões.

Em novembro de 1948, ele finalmente cedeu aos apelos de nossa Mãe de abandonar todas as suas empresas, para colocar a salvo nossa família. Não tivemos alternativa a não ser fugir do comunismo, rumando para Hong Kong. Os argumentos contundentes de nossa Mãe, contra a insistência do Pai, que queria arriscar tudo, permanecendo na China, ainda soam claramente em nossa memória. ‘Mesmo que você e eu estivéssemos dispostos a morrer como mártires’, disse ela, ‘quem irá preservar a fé destes pequeninos?’. Foi o argumento decisivo para que ele finalmente tomasse decisão tão difícil.




Em Hong Kong, enquanto o Pai iludia os comunistas e a pressão por parte deles para retornar para a China, ele pensou em iniciar uma nova base industrial: Hong Kong Wool Manufacturing. Repentinamente, a Guerra da Coreia estourou e a ameaça de dominação comunista mundial parecia iminente.


Numa manhã de novembro de 1948, sete dos filhos foram trazidos apressadamente de suas escolas para casa. Lá se juntaram mais duas irmãzinhas e o irmão caçula da família, ainda bebê. Ao todo, eram dez crianças, uma babá e nossa mãe que embarcaram em três aviões diferentes, partindo de Xangai para Hong Kong. Nosso pai seguiu na semana seguinte e, em menos de um mês, o aeroporto de Xangai foi fechado. Os dezoito meses que passamos em Hong Kong renderam mais um membro para a família Sieh: a nossa irmã Cecília. Para a família, aqueles foram dias turbulentos de luta, como se vivêssemos um “cabo de guerra”, com nossa mãe de um lado puxando para a família ficar mais longe da ameaça do comunismo, e o pai do outro lado, olhando para trás para ver se ele ainda poderia encontrar uma maneira de gerenciar seus empreendimentos na China, permanecendo na condição de exilado em Hong Kong.



Em Hong Kong, os nossos Pais continuaram a sustentar grande parte do trabalho missionário no Extremo Oriente, em especial o dos Salesianos, que haviam estabelecido uma base firme nas Filipinas. O Pe. Braga, mostrado aqui com os meninos em uma das escolas de lá, em 1950.



Em 1950, com a Guerra da Coreia em andamento, a ameaça do comunismo internacional tornou-se ainda mais real. Depois de saber do martírio do Pe. Beda numa prisão em Xangai, e depois de revisitar o Papa em Roma, novamente por insistência de nossa Mãe, o Pai levou sua família de onze filhos de Hong Kong primeiro à Argentina e, depois, para o Brasil como imigrantes. Importante enfatizar o conselho de Monsenhor Montini, quando esteve pela última vez em Roma: “Mr. Sieh, o senhor tem uma família grande, de muitos filhos. Por que não levá-los para um país católico na América do Sul?”. Foram palavras proféticas.




A nossa casa também abrigava uma parte dos funcionários do Pai, que o acompanharam para Hong Kong. A foto mostra os funcionários em pé, com nossos pais sentados em um sofá e seis das crianças mais velhas. O homem sentado ao lado de nossa Mãe era o Sr. Evans, um inglês que atuou como consultor de nosso Pai desde os primeiros dias, quando o Pai começou a aventurar-se no ramo têxtil. A pintura na parede do fundo é uma paisagem que mostra duas mansões e uma torre de igreja à distância. Eram as casas que deixamos para trás, em Xangai


Estas duas últimas decisões – a de fugir da China para Hong Kong e a de deixar Hong Kong para o Brasil – eram pontos críticos, decisivos, e tornaram-se a base e a referência para todo o resto da história da busca da família Sieh por uma nova vida. A travessia foi feita em duas etapas. Em primeiro lugar, deixar Xangai significava nos desenraizar por completo, deixar nossas propriedades, abandonar nossa cultura. Em segundo lugar, expunha nossa vulnerabilidade, ao assumir o risco enorme de enfrentar o desconhecido, comprometendo-nos a seguir em frente com fé.



A bordo deste navio holandês, o SS Ruiz (ancorado no porto de Hong Kong), toda a Família Sieh de 11 crianças iniciou uma viagem de mais de dois meses para um país chamado Argentina, na América do Sul. Isso foi em junho de 1950. Quando o navio finalmente chegou a Buenos Aires, não foi autorizado a atracar por causa de uma greve dos “trabalhadores sindicalizados”, apoiados pelo Presidente Juan Peron. O Pai disse que não sabia que o comunismo tinha se espalhado na América do Sul também!

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