Depois de deixar Hong Kong, nossa Mãe deu à luz mais dois filhos, Jim e Paul, no Brasil. Isto completou a Família Sieh de treze filhos, com seis filhas (Vivian, Molia, Ann, Bernadette, Theresa e Cecília ) e sete filhos (Tom, John, Joe, João Bosco, Luiz, Jim e Paul).
O objetivo de nossa Mãe sempre foi o de promover e estimular os valores espirituais em todos os seus filhos, supervisionar a prática espiritual da família, além de consolidar as relações harmoniosas da família Sieh, em expansão no Brasil e nos Estados Unidos. Para a nossa Mãe, o mundo fora da China era um mundo de ambiguidades. Nele, ela era segura para praticar sua devoção a Cristo e à Igreja, mas era também um mundo traiçoeiro, que podia desviar muitas almas de sua vocação universal à santidade. Sua rotina incluía a Missa diária, o mercado local para a compra de frutas e verduras frescas e, finalmente, a cozinha para preparar as refeições para a família e os funcionários. Ela ensinou todas as empregadas domésticas a cozinhar, e logo percebia e incentivava o desenvolvimento de seus talentos especiais e dons natos. Interessante observar que fez tudo isso sem nunca aprender a falar português.
A família Sieh se fortalecia de duas fontes: a comida e a fé. Comida chinesa e fé católica. Comer e rezar. Nossa Mãe continuou a organizar e liderar grupos de mulheres para a formação espiritual delas, como nos primeiros dias na China. Seu ministério era o de visitar seus amigos enfermos e moribundos. Ao tomar conhecimento da existência de alguma pessoa em estado terminal, ela se aprontava imediatamente para visitar o paciente, levando sempre seu terço e a água milagrosa de Lourdes.
Ela nos lembrou da misericórdia especial de Deus para com os moribundos. Quando ainda uma jovem mãe na China, ela rezava pela cura de nosso avô do vício do ópio e por sua conversão à fé Católica. Mas ele sempre resistiu. Então, instantes antes dele morrer, ela testemunhou seu arrependimento milagroso, quando ele fez sinal para ela trazer o crucifixo. Poder ministrar-lhe tanto o sacramento do Batismo e as orações finais para uma morte feliz foi uma das maiores consolações da sua vida.
O propósito de nosso Pai sempre era o de dirigir um negócio rentável e educar todos os seus filhos nos Estados Unidos. Seu plano previa que os meninos voltassem ao Brasil após a formatura, para ajudá-lo com a empresa. E que cada uma das meninas encontrasse um “marido digno” e o seguisse sendo uma esposa virtuosa e companheira de vida.
Quanto aos meninos, que foram para universidades norte-americanas, todos, exceto um, voltaram com suas esposas para assumir funções nas empresas da família que prosperavam no Brasil. Todas as meninas se casaram, com exceção da Molia, que seguiu a vocação religiosa após o ensino médio e ingressou na Congregação das Irmãs dos Santos Nomes. Nenhuma das filhas voltou a se estabelecer no Brasil, exceto Vivian e seu marido Jim. Eles, no entanto, retornaram para os Estados Unidos quando os filhos atingiram a idade para entrar na faculdade.
O Pe. Chu e um grupo de familiares e amigos num retiro em Siloé, o Mosteiro S. Bento, Vinhedo, SP. Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, oferecidos em chinês. Um acontecimento inédito, que se realizou graças à persistência da Mãe e à generosidade do Pe. Chu.
A preocupação de nosso Pai com a educação dos seus filhos era, em primeiro lugar, uma questão pessoal pois, lamentavelmente, foi-lhe negada a oportunidade de concluir o segundo grau. Além disso, como imigrante em uma terra estrangeira, ele sabia que a luta para sobreviver dependeria do êxito da educação de seus filhos. Fizeram-se sacrifícios enormes para enviar cada filho às melhores escolas possíveis. Um exemplo disso foi a demora em comprar uma residência para a família, o que ocorreu só depois que Tom e Vivian se graduaram no curso superior.
As empresas da família
A empresa de nosso Pai no Brasil de fato cresceu substancialmente nos anos seguintes ao retorno dos seus filhos ao Brasil, depois de terem concluído os seus estudos nos Estados Unidos. De têxteis, a empresa expandiu seus negócios em novos segmentos , como a agro-indústria, a indústria alimentícia, e eventualmente, também, a fabricação de fibras químicas e outros produtos.
No momento em que nosso Pai morreu, em 2004, aos 94 anos de idade, dois filhos, Luiz e Paulo, continuaram na empresa. Dessa forma, honraram a visão do pai, de que as empresas familiares iriam terminar com ele e seus filhos. Ele acreditava que seus netos iriam ser mais bem-sucedidos por conta própria, com melhores perspectivas e empreendimentos mais promissores, em uma economia mundial regida pelas regras da globalização. Após a sua morte, ele legou todas as suas propriedades e bens para a nossa Mãe.
Peregrinações para Roma e os Santuários Marianos
Meus pais mantiveram seu longo relacionamento com os salesianos. Aqui se mostra as visitas feitas ao Reitor Major e Superior Geral das Irmãs em Roma.
Além de estar com a sua família, os nossos pais tinham poucos prazeres. As viagens limitavam-se a visitar a família nos Estados Unidos e à peregrinações a Roma e aos Santuários Marianos de Fátima e Lourdes. Um de seus desejos persistentes era o de levar de volta a fé missionária para a China. Com este objetivo em mente, eles tiveram audiências com o Papa João Paulo II, em 1981, e um encontro muito emocionante com o Superior Geral dos Jesuítas, Pe. Pedro Arrupe, que lhes disse: “Sr. e Sra. Sieh, a estrada de volta para a China parece impossível, mas temos de encontrar um jeito... vocês não acham?”. Na manhã seguinte, o Pe. Arrupe celebrou a Eucaristia com eles na capela particular de São Francisco Xavier, em homenagem ao santo que morreu em uma praia olhando para a rota que conduzia em direção à China. Por que nossos pais insistiam em ir aos Santuários Marianos com tanta frequência?
Porque eles queriam orar e suplicar à nossa Mãe Santíssima um favor especial. Qual milagre estavam pedindo? Muitas vezes nos perguntamos. Em um certo momento, nosso Pai revelou seu segredo: ‘Eu tenho três filhas ainda por casar. Sinto-me na obrigação de pedir à nossa Mãe Santíssima para que sejam três meninos chineses e católicos muito especiais!’.
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