Há 24 anos, quando chegou ao Brasil, o jovem chinês Lucas Xiao, tinha uma única certeza em sua vida: - Ele seria um padre.
Em 2006, já ordenado sacerdote, conheceu a matriarca da família Sieh, dona Maria. Foi após uma missa, que dona Maria, acompanhada por uma de suas filhas, se aproximou do padre Lucas e perguntou: - “Padre, qual o seu sonho?” Naquele momento ele não soube o que responder, mas essa pergunta ficou em seu coração e mudou sua vida.
“Naquele dia, ela me olhou e falou que a partir daquele momento eu receberia uma ajuda financeira todo mês, e assim é feito até hoje, mesmo após a sua morte.
O que sempre me impressionou em dona Maria, foi o desejo de ajudar aqueles que mais necessitavam e principalmente sua humildade. Sempre que eu a agradecia, ela me calava dizendo que era para agradecer somente a Deus!”
Quando o padre Lucas olha para trás, percebe que o sonho de agora surgiu quando conheceu Maria Sieh. Atendendo a sugestão de Dom Cláudio Hummes, de que os padres chineses deveriam sair das igrejas para evangelizar as pessoas nas ruas do centro histórico, padre Lucas passou a conviver com pessoas necessitadas e percebeu que faltavam creches na região central de São Paulo, onde muitas famílias imigrantes trabalham por muitas horas todos os dias.
E assim, há cinco anos, o sonho dele de, através da educação, acolher as crianças dessas famílias que não tinham onde ficar, se tornou realidade. Foi quando surgiu a Associação Beneficente da Educação Brasil e China (ABEBC).
Hoje, a entidade administra cinco Centros de Educação Infantil (CEI), que atendem mais de 900 crianças, em diferentes bairros de São Paulo. Esses CEI foram criados através de um convênio firmado com a prefeitura de São Paulo, que funciona da seguinte forma:
Padre Lucas também é vice-reitor do Colégio São Bento, instituição de ensino tradicional de São Paulo, que pertence aos beneditinos e quase fechou suas portas há alguns anos, por falta de alunos. Por sugestão de padre Lucas, foi criado um curso de mandarim no colégio, onde hoje mais da metade dos 330 alunos são chineses. É também no terreno do colégio que funciona um dos centros de educação básica administrados pela ABEBC.
Nas creches são atendidas crianças de 0 a 3 anos, e a diversidade cultural é imensa. São haitianas, chinesas, brasileiras, venezuelanas. Muitas moram nas ruas com seus pais que, em alguns casos, são dependentes químicos.
A assistência se estende também às famílias, com a doação de cestas básicas, e com ajuda para a emissão de documentos, e outras questões que surgem devido à nacionalidade e idiomas diferentes.
Apesar das dificuldades, o trabalho com as crianças, já dá bons frutos: - É visível que elas gostam de estar na creche! Muitas se recusam a ir embora no final do dia, quando os pais vão buscá-las. E várias famílias têm expressado sua gratidão e alegria por terem um ambiente seguro para deixar seus filhos enquanto trabalham.
Pensando na memória de dona Maria Sieh, padre Lucas acredita que ela ficaria feliz em ver os resultados desse projeto, porque ela sempre se preocupou muito com os mais carentes! Mas quando perguntamos se ele já alcançou seu objetivo, a resposta é imediata:
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