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Natal às margens: O poder de transformar vidas está em nossas mãos

Atualizado: 22 de mai. de 2023

“A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós, cheia de amor e verdade. E nós vimos a revelação da sua natureza divina, natureza que ele recebeu como Filho único do Pai.” João 1,14

Comunidade Haiti - São Paulo, SP


Se aproxima o Natal, época de celebrar a vida do menino Jesus e também a nossa que foi salva por Ele. Mas como será o natal para a população que vive às margens da grande Metrópole de São Paulo? Como será um natal às margens da cidade, da sociedade, das condições de vida digna como saneamento básico e fornecimento de energia?


Toda essa situação não é novidade, há muito tempo vemos parte da população brasileira sobreviver em condições de extrema miséria. Muito se fala sobre isso, mas poucas ações são realizadas para transformar essa realidade.


A comunidade Haiti, na zona leste de São Paulo, é um quadro vivo desse problema. A favela surgiu em 2015, com a chegada de famílias sem teto, que foram expulsas de outros terrenos invadidos na cidade. Enfrentando inúmeros problemas, hoje a comunidade abriga, em suas vielas estreitas, duzentas famílias.



Irmã Ana Griffin, missionária do Santo Rosário, que se faz presente na comunidade desde 2016, lembra que quando chegou, as necessidades eram grandes: - Moradias frágeis construídas com material reciclado que poderiam sucumbir facilmente em caso de incêndio. A saúde das crianças era precária e o desejo de um acompanhamento espiritual era gritante. As famílias conviviam com o medo de perder seus filhos para o fogo ou para doenças que surgiam em meio a falta de um sistema de esgoto e água encanada.


Em meio ao caos, Irmã Ana aceitou o desafio de estender as mãos para os que moram ali. E os encontros de oração que a irmã realiza ainda hoje na comunidade, se tornaram sagrados para homens e mulheres compartilharem suas histórias e o desejo de vida melhor.


Com o passar dos anos, outros olhares foram se voltando para a comunidade e a vida daquelas famílias começou a ser transformada. E se pensarmos em Natal, lembramos que Jesus nasceu num estábulo e que a sua presença naquele lugar, trouxe luz e esperança. Assim acontece também na favela Haiti: - A comunidade cristã cresceu e uma capela foi construída com a ajuda de benfeitores da Irlanda e dos moradores que receberam, do poder público, garantias de que não serão expulsos do terreno. As famílias se mobilizaram para comprar canos de pvc e organizar o esgoto. As casas estão sendo construídas com tijolos sobre fundações sólidas, e enfim, as famílias encontram segurança e esperança no lugar do medo.



Como diz irmã Ana: - A vida às margens, ensina a ter paciência. E nesse processo os moradores se organizaram. Hoje eles se reúnem na capela Nossa Senhora das graças para atividades sociais e religiosas. Há quatro anos a pastoral da Criança, cuida de gestantes, mães e crianças até seis anos. Além do acompanhamento, a pastoral acolhe e forma essa população. Todo esse trabalho é feito por lideranças sociais da própria comunidade.


E assim, chega o Natal na comunidade Haiti, acolhendo o menino Jesus que também nasceu em um lugar de vulnerabilidade. E as palavras de irmã Ana, nos ensinam, o que os moradores da comunidade já aprenderam: - “As margens são onde a vida acontece em seu estado mais bruto. Onde a vida existe com dureza e, incrivelmente, ternura e amizade. É também aí que Emanuel, Deus conosco, nasce de novo e de novo, nos acontecimentos inseguros e imprevisíveis da vida: - Um bebê envolto em roupas de segunda mão, dormindo pacificamente irradiando esperança, paz e alegria.”


Há muito ainda o que ser feito pela comunidade Haiti, mas cada conquista, cada mão estendida, por menor que seja a ajuda oferecida, é capaz de colocar um sorriso no rosto das pessoas que vivem ali e de transformar sonhos em esperança viva de que a vida digna vai chegar. E mais uma vez, com palavras sábias, irmã Ana nos leva a refletir: -“Eles vivem no limite onde a vida é preciosa e viver é perigoso”. Eles vivem às margens! Vivem o hoje, sem pensar como será o amanhã, porque sobreviver agora é mais importante. E nesse Natal não será diferente. Mas eles sabem o que verdadeiramente é comemorado na noite de Natal, porque aprenderam que a vida é preciosa, é divina. Talvez o que esteja faltando para eles, seja você estender as mãos, afinal não é preciso muito para ajudar, basta abrir o coração e se “encher de Natal!”


*Escrito com a colaboração da Irmã Ana Griffin, Irmã Missionária do Santo Rosário com mais de 30 anos de serviço missionário no Brasil. Atualmente acompanha a Comunidade Nossa Senhora das Graças na favela Haiti, São Paulo.

 



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